O Duro Caminho de um Iluminado

Sou Vothoma Brahma. Nascido no Brasil, tive uma revelação sagrada que me fez viajar para a Índia ainda bastante jovem: eu era o avatar - alma iluminada que volta a encarnar na Terra de tempos em tempos - de um importante líder espiritual. Foi minha mãe quem disse!

Enfim, a
Índia! Ahhhh, a Índia! Ahhhhhh... Não a aconselho a ninguém.

Agora, se você quiser ver coisas inimagináveis, aconselho que vá sim a
Índia, país tão pitoresco e de animado movimento cinematográfico, chamado por eles Bollywood, junção de Bombaim com Hollywood. Coisa fina, como devem imaginar.

Uma vez na Índia, tive grande interesse em aprender novidades, técnicas para “sair do corpo” ou conseguir poderes sobrenaturais. Progresso da alma à parte, essas coisas poderiam me ajudar à faturar "algum" em programas dominicais na TV.

Até que um amigo que dividia uma espelunca comigo, apareceu com um folheto de divulgação
de “aulas de vivência” ministrada por um suposto “mestre Shivas Regal”.

Nessa vivência, o “mestre” estaria ensinando suas “técnicas especiais para
iluminação espiritual” a preços módicos... Algo em torno de R$ 800,00 por 2 dias de convivência com um autêntico “guru iluminado” indiano. Uma pechincha! Não dei muita importância para a foto do panfleto, que mostrava um Shivas com a pele super clara, usando uma barba meio ruiva e olhos azuis de ator hollywoodiano.

Apesar de meu amigo afirmar que indiano de olhos azuis era uma coisa que simplesmente
não existia, fiz questão de ir lá participar da tal vivência, com minhas últimas economias, e voltei achando que tinha encontrado a Verdade.

A verdade era que eu estava na rua da amargura, despejado e sem mais um tostão no bolso.

Mas continuei meu duro caminho pelas ruas daquele país tão colorido, com muita, digamos,
"fome" de conhecimento. Eu que abri mão de uma carreira profissional e até dos confortos materiais para viver uma rotina de ascetismo digna de um monge. Observava rigorosos jejuns todos os meses, às vezes por mais de uma semana seguida(!) Acordava praticando Yoga e ia dormir praticando Yoga, desde a parte física postural e de limpeza corpórea até as práticas de meditação, passando por um rigoroso treinamento respiratório e etc.

Transformei-me no tipo do cara que nunca dizia “postura”, mas sim “ásana”, nem falava em processo respiratório, dizia sempre “pranayama”. Faço, desde então, questão de expressar-me sempre usando os termos em sânscrito, aprendi de cor os nomes originais de milhares de ásanas, até conhecer profundamente todos os textos védicos e ter os Yoga Sutras decorados do princípio ao fim...

Fui completamente "purificado", depois de tomar muita água do rio sagrado Ganges - sim,
aquele mesmo que os indianos usam para tomar banho, lavar a louça e onde, de vez em quando, podemos ver alguns animais, já desprovidos da luz da vida, boiando em suas águas.

De volta ao Brasil, já quase sem conseguir andar direito de tanta Yoga, percebi que estava em um estágio tão avançado de "iluminação" que deveria encher novamente a cabeça de besteiras nesse país tropical para recomeçar meu caminho sagrado, fazendo com que minha vida não perdesse completamente o sentido. E nesse interim, vou aproveitar a estada para auxiliá-los aqui, nessa coluna, com minhas palavras de sabedoria que deverão guiá-lo em seus momentos de angústia na alma. Por que deve confiar em minha opinião? Ora, bolas, ainda é desaforado?? Bom, você tem alguma idéia melhor de momento?...

Como fazer? Poste nos
comentários dessa sessão suas dúvidas, e voltarei com uma sábia opinião na próxima edição de O Diário da Toca.

Agora vou indo que estou atrasado para um pagode com churrasco que vai rolar na casa
de um amigo.

Namastê.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Guru!!!

Rapaz, você passou por tudo isso mesmo???

Olha, já que você está disposto a ajudar, e é assim tão poderoso, me dá aí os números da loto, que tá faltando feijão aqui no barraco.

Tô desempregado, e isso aí vai dar uma forcinha... Ei, não esquece de informar o concurso!

Valeu ô da iluminação. Tô esperando.